terça-feira, 2 de junho de 2015

VIOLÊNCIA E ESTIGMA SOCIAL


A violência é um tema e uma situação que estão presentes no cotidiano de todos os indivíduos, não importam as estratificações sociais ou os espaços geográficos, tudo está vulnerável ao exercício nefasto de algum acontecimento em que se relativiza a condição de ser humano.
Mesmo considerando que os atos violentos nas suas múltiplas facetas são perceptíveis em qualquer lugar, surgem então um questionamento e até mesmo uma constatação em se tratando de colocar, como foco principal dos acontecimentos, apenas os espaços periféricos dos centros urbanos. Surgem dentro desse contexto algumas indagações para serem problematizadas com o intuito de buscar soluções para o enfrentamento do problema. Talvez antigas posições ainda estejam sendo fatores contribuintes para o alargamento dos quadros de violência em todos os centros urbanos, sobretudo nas periferias. Tais fatores podem ser interpretados como falta de políticas públicas direcionadas ao público juvenil, ou mesmo opções de lazer que possam ser canais motivadores de convivência e perspectivas, como as atividades esportivas. E por que não citar também as atitudes segregadoras e preconceituosas que geram ações de violência simbólica com consequências desagradáveis para os indivíduos atingidos por esses ataques? Nesse caso, até quem não executa ações transgressoras pode acabar sendo rotulado de marginal ou bandido, com base apenas em estereótipos medíocres.
Outro dia ouvi de uma pessoa com boa qualificação acadêmica que o Conjunto Santo Antônio e adjacências haviam se tornado um “barril de pólvora”; segundo essa pessoa, todo o complexo habitacional, criado para acolher as famílias que antes não tinham residência própria, era um misto de gangues rivais que se duelavam, e sua crítica partia do fato de não ter havido uma espécie de seleção para a distribuição das casas. Essa explanação é preconceituosa em todas as suas esferas, pois, num breve exercício hermenêutico, pode-se perceber que a colocação foi generalizante e sem conhecimento de causa, afinal, se fosse assim, talvez não existisse mais uma só pessoa. Outro agravante se dá com base no fato de que não é possível se imaginar na contemporaneidade um lugar ocupado somente por pessoas do “bem” e outro só por pessoas do “mal”. Como se daria então esse processo de constatação? Estaríamos vivendo um novo apartheid?  
O fato é que foi necessário levar ao conhecimento dessa pessoa que suas generalizações não faziam sentido absolutamente, mas não deu para deixar de reconhecer algumas situações conflituosas ocorridas nesses espaços. O Conjunto Santo Antônio – como todos sabem – já foi palco de muitos episódios com resultados fatais, e por isso mesmo, foi estigmatizado como sendo um lugar donde só se podem esperar atitudes violentas. Para algumas pessoas de outros bairros, passar por aqui é sinal de uma preocupação intensa; quem não já ouviu uma chacota ou outra dentro de transportes coletivos?
Acredito que a violência está infestada em todos os lugares, exteriorizada em suas diversas formas. Ainda nesse contexto, não podemos deixar de reconhecer a contribuição sinistra que as atitudes preconceituosas prestam para isso, e conforme essa postura, todos os indivíduos são suscetíveis ao rótulo de perigoso, basta ser reconhecido como morador do complexo.
É necessário criar condições de dignidade para os indivíduos que moram em lugares dos quais as autoridades só se lembram de visitar em determinada época; a juventude precisa de incentivo e ações efetivas no que concerne ao exercício de sua cidadania, afinal, os jovens não têm só deveres, têm também direitos.
(Vicente de Paulo Sousa, sociólogo – Reg. 0000397-CE)

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